o mendigo é a rua
por isso eu ando chorando pela cidade
derramando sangue, espalhando suor.
ele está em todos os cantos
é o sol que nasce antes que eu acorde
areia entre os dedos além do engarrafamento
o cimento, o concreto, as noites frias.
debaixo do papelão
encostado no meio fio
ou no meio da praça
ele é os olhos do mundo todo.
o mendigo é tudo o que uma cidade é.
o mendigo guarda as ruínas de tudo
que querem que esqueçam.
a fome,
a sede,
a injustiça,
a tristeza,
a forma do sorriso já esquecida.
o mendigo é tudo o que uma cidade é.
e tudo chove
tudo é cinza, preto, escuro
sangra, arde, coça, adoece, treme, corta
perfura
escorre
cai.
o mendigo é tudo o que a cidade é.
por isso eu ando por aí desenhando em cada canto
e grafitando cada muro
como se fosse um sorriso
que ele ainda não tem.
abrace uma cidade.
o mendigo é tudo o que a cidade é.
Um comentário:
são mesmo!
intenso.
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