Paralelepípedos desajustados
meu sapato vermelho
o seu tênis sujo de lama
e o trecho daquela música triste
Andávamos naquelas ruas sujas
tua mão na minha cintura
meu braço no teu pescoço
e aquele sol que quase nos deixava
completamente bêbados
Garrafas vazias e quebradas
cacos de vidro
embrulhos de comida
camisinhas usadas
e um saco de poemas
na minha bolsa.
E sua mão continuava ali
e o sol já mudava de lugar
as sombras das casas velhas
dos muros pichados
das calçadas lotadas
jogavam-se por cima de nós dois
como se o mundo inteiro
estivesse desabando
sob nossas cabeças
Nos abraçamos
estávamos suados
você cheirava a florestas
e seus olhos me lembravam a grandeza dos reis
de príncipes, de nobres
e das baratas.
Coisas inconstantes
dessas que estão aqui
mas também podem não estar
ou pior que isso:
- estão sem estar.
Você é meu?
eu te perguntei
ainda abraçada
entregue à seus braços
e não queria uma resposta.
Demos as mãos
mais uma vez
talvez a última
ou penúltima
ou a primeira, também
e fomos subindo pelo céu
como dois balões de festa infantil
coloridos
cintilantes
e cheios
de algo tão vazio.
O amor
você cochichava no meu ouvido
é essa dor.
E naquele momento
ou não exatamente naquele momento
nos transformamos em dois pássaros
e subimos tão alto
que era impossível lembrar
se já tínhamos morado
em outro lugar.
O ninho cheirava
àquela canção
que ficou lá embaixo
com os mortais.
E eu sussurrei
porque achei que seria o momento exato
e porque poderia ser a última oportunidade:
Você é meu
mas não existe 'eu'.
E caí
e
te
pu
x
ei
comigo
3 comentários:
São incríveis suas escritas, uma melhor do que a outra, não acredito que só descobri hoje.
Sou pássaro aprendiz, Thi. <3
Maravilhoso!
Postar um comentário