domingo, 19 de maio de 2013

Ser poeta x Escrever poemas

Escreverei isso aqui em prosa por dois motivos: a) não quero que se transforme em um poema sobre a poesia e b) não quero que se transforme em poesia falando sobre poema.
Quando comecei a escrever de verdade, logo apareceram mil e um professores, editores e revisores, achando legal o que eu escrevia, alguns rindo, outros apenas admirados por eu não errar uma vírgula sequer etc. etc. E apareceu um, em especial, dizendo que eu escrevia TUDO com ritmo de poesia.
E aí a pirralha aqui começou a escrever poemas.
E fui gostando, principalmente dos haicais.
Avançando uns seis meses, fui ao meu primeiro sarau. Poesia Esporte Clube. Achei irado demais, embora minha dicção fosse péssima e eu não conseguia decorar nenhum poema. Era tudo lido da ''colinha'' nos meus braços.
E eu decidi fazer o meu próprio grupo de poesia, meus próprios saraus etc etc. - que é uma história para outros posts. Mas enfim.
Aí, nos eventos do Iapois (que é o ''meu'' grupo), eu comecei a perceber que tinha uma galera que não falava absolutamente nada, só sentava lá, sorria e prestava atenção. E aplaudia, estalava os dedos e ficava com um brilho nos olhos.
Às vezes, esse fulaninho-com-brilho-nos-olhos nunca tinha escrito um poema antes. Mas, se o desafiassem a fazer um poema, na hora, sem escrever nem nada, ele arrasaria muito. E aí eu saberia que ele é um poeta.
Mas têm os caras, também, que quase não deixam ninguém mais, além deles, falar alguma coisa: Querem ler 20 poemas autorais em um evento de 1 hora, com mais outras 40 pessoas querendo ler, ao menos, um poema curto.
E se esses caras são poetas?! Eles sentam de frente para seus computadores, procuram rimas e escrevem alguma coisa; meia frase abaixo de meia frase, estrofes contadas, rimas medidas. E aí, depois, eles revisam quantas vezes conseguirem. Trocam as rimas, tentam enriquecer o vocabulário, usam palavras extraídas de uns cinco dicionários diferentes. E, depois, levam os poemas, impressos - e às vezes dentro de pastas, papel-cartão e tudo muito bonitinho - aos saraus. E leem o mais rápido que podem, porque querem, o quanto antes, o aplauso dos ouvintes - ou dos tentam manter os olhos fixos no ''poeta''.
Se eles são poetas?!, repito. Eles escrevem poesia.
E o que seria um poeta?! Um poeta é aquele que investe na poesia. É aquele que escreve seus poemas em bordas de jornal, guardanapos sujos e em folhas de árvores. Porque eu já vi isso acontecer. Um poeta é esse que sabe dos seus versos - porque os conhece, e não apenas os decora. Um poeta é esse que quer ouvir a poesia dos outros, que quer usar a sua poesia para mudar o mundo. Um poeta quer o mundo.
Um poeta quer a poesia, na verdade.
O que não é muito diferente de querer o mundo.
Um poeta lê seus versos para que as pessoas fiquem felizes, com brilhos nos olhos, sorriam e se divirtam - não apenas para ganhar prêmios literários, divulgação no jornalzinho local ou para que as pessoas saibam que ele é o autor daquelas palavras, juntas, cheias de significados vazios.
Um poeta quase nunca sabe que um poeta.
E eu quero estar nesse meio entre os discípulos de só-sei-que-nada-sei.


P.S.: Se você se identificou com alguma descrição desse texto, favor não me xingar por aqui, porque esse blog é só amores. Pode enviar sua reclamação para o PROCON.

Nenhum comentário: