segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O dono do mundo


Após ver algumas fotos antigas, de antigas gatas e antigas baladas, você dobraria esquinas e atravessaria calçadas como se ainda fosse o dono de tudo aquilo.
E de que importariam as outras pessoas, a fome mundial ou a corrupção no Senado, quando você é o cara que dá conta de quinze mulheres diferentes por mês? 
O que faria um câncer contra alguém que tem uma conta bancária beirando a quarta casa de zeros e que têm poder suficiente para contratar tantos médicos que um hospital particular, desses até moderninhos, não seria capaz de comportar?
O que fariam, então, os pedreiros, que saíam de suas casas às seis da manhã e passavam o dia inteiro carregando tijolos, respirando poeira e empilhando pedras, apenas para alimentar suas famílias, contra alguém que contrata empregados domésticos como se fosse à fila de pão?
E aqueles caras franzinos, que passaram toda a sua adolescência e boa parte da infância enfurnados em bibliotecas públicas, caçando livros e buscando tesouros de conhecimento, o que fariam, então, contra homens que não conhecem o valor de um livro, mesmo tendo, em suas carteiras, dinheiro suficiente para comprar uma livraria de shopping inteira?
O que fariam as crianças, aliás? As crianças, esses seres tão sábios em seus limitados conhecimentos científicos, que são capazes de curar qualquer dor com um sorriso – o que fariam as crianças?
Nada.
Nenhuma dessas pessoas exerceria poder algum sobre uma pessoa assim, como você.
E enquanto um homem morre no corredor de um hospital público, você estaciona em uma vaga de deficiente físico.
E enquanto você bate em tantos homossexuais, xinga pessoas no trânsito e acha que é só usar um perfume caro, ter um carro de primeira linha e vestir uma camiseta de marca que tá tudo bem, as pessoas felizes vivem.
Mas você nunca vai entender isso.
Seus verbos são outros.
São plurais, aumentativos, cheios de exclamações e tudo o mais, mas, e daí?!
Você nunca saberá se uma pessoa gosta de você, realmente, ou se é o beijo é esperança que tenha ouro na sua língua.
E que continuemos beijando tesouros e esqueçamos de poços de lixo, fantasiados, eternamente, com roupas de marca. 
Porque é assim que nossos espíritos ficam mais ricos.


P.S.: Sua data de validade acabou antes de ter dia. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A letra do infinito

Em janeiro, li 'As vantagens de ser invisível', e chorei bastante, porque, além de ter me identificado muito com as histórias, o livro é tocante e muito lindo.
Quem nunca se sentiu infinito? 
Eu já. 
A primeira vez em que me senti infinita foi quando li esse livro. A segunda foi quando tive um pesadelo e meu pai cantou pra mim, enquanto me balançava numa rede, até eu adormecer. A terceira vez foi quando senti um calor gigante, e tomei um quase-banho numa pia, e minha roupa ficou toda molhada - uma coisa linda de se ver. A quarta vez foi quando tomei banho, depois de um dia extremamente cansativo, e adormeci sem roupa alguma, completamente molhada, debaixo dos lençóis. A quinta vez foi quando me disseram que algo que eu tinha escrito tinha mudado uma vida. A sexta vez foi quando eu assisti o filme 'O lado bom da vida', e fiquei dançando, ali, no meio do filme, um monte de gente olhando. A sétima vez foi quando eu fiquei brincando de ser feliz, em um balanço que, teoricamente, só suportaria metade do meu peso. A oitava vez - e já estou ficando cansada desses números ''ordinários'' - foi quando dancei tanto que acordei completamente dolorida, no outro dia. A oitava vez, e não menos importante, foi quando comprei minha nova sapatilha de ballet e dancei e dancei e dancei, como se eu fosse a única no mundo e o mundo inteiro fosse vários. 
Mas, e quando esse sentir-se infinito não acaba nunca?, me pego perguntando, pouco tempo atrás. 
Dizem que eu estou apaixonada. Meus olhos brilham, meus poemas ganharam um quê de paixão e eu vivo chorando. Mas, oras! Eu sempre fui apaixonada. 
Pelos pássaros. 
E quem nunca?!
Pois que digam. Espalhem em todos os reinos, façam a notícia correr rios e lagos, mandem avisar aos reis. Ordenem ao (ex-)papa que não renuncie, porque REGINA ESTÁ APAIXONADA! 
Estou apaixonada por um simples e único motivo: poder me apaixonar.
E se não existisse ninguém que cativasse outros a tal ponto de fazer olhos brilharem e textos ganharam mais paixão? Como seria o mundo?
Por Jesus, Maria e Vishnu.
Estarei apaixonada até o dia em que estiver viva.
Se não por algo, por tudo! Por um pássaro, por um canto, por um olho, por uma lágrima de canto de olho, uma dança, uma música, um poema, uma palavra...
E espero que o Infinito inteiro me faça sentir infinita, sempre.
Porque se não for assim, eu não quero ser nada.


P.S.: Esqueçam essa história de pedir pro (ex-)papa não renunciar, porque eu quero é um papa mais pop!

velha conhecida

A minha saudade
não só é bonita
na poesia.

Às vezes, 
ela se veste de você
e vem me fazer um cafuné,
enquanto eu espero que dê
sono.

Às vezes,
ela vem vestida dos pés a cabeça,
feito uma indiana estilosa;
outras, não.

Ela já apareceu nua
completamente invisível,
de preto,
de prata,
e entrou no meu peito.

A saudade
é engraçada
Quando a gente acha
que nada
podia piorar,
ela aparece nas letras de uma música
antes cantada a dois.

Ela nunca pede pra entrar
é uma mal educada de primeira.
Chega, faz barulho,
entra sem avisar,
e quando vejo
ela já faz parte
de mim.

Um dia
ela entrou como não quem nada
e me levou embora duas dúzias de lágrimas
e três quilos
e eu fiquei
a ver vazios
no meu peito
na minha barriga
nas minhas pernas
nos meus olhos
na curva da panturrilha
e em outros lugares estranhos.

Pra Saudade,
o lugar mais estranho do mundo
é o olhar de um apaixonado.

E a saudade,
essa bela praga,
se condensa em mil lágrimas
dentro de mim.

Quando abro os olhos
e cruzo um olhar com você
não são lágrimas que você vê
estampado.

É a nossa
saudade.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Os 10+ livros de poesia

Primeiramente, vou explicar o sentido desse post.
A poesia é, para muitos, um refúgio. Uma fuga, uma estrada secundária a ser seguida. Pra mim, não.
A poesia é a caminhada inteira, com todas as suas estradas à parte, desvios e buracos de asfalto.
Por tanto e por tão pouco, decidi recomendar os meus 10 livros de poesia preferidos.

10 - Descaminhar - Pedro Tostes
Pedro é onze. Um grande poeta, um grande amigo. Um grande livro. Chocante e simples, é complexo. Não é para ser entendido, mas requer um certo 'sentir'.
9- O amor é um cão dos diabos - Charles Bukowski
Embora eu prefira a prosa bukowskiana, os poemas são bem legais e ácidos. Um estilo diferente e, no mesmo tom que é perturbante, consegue ser encantador.
8- Menino do mato - Manoel de Barros.
Como sempre, Manoel de Barros. Com aquele falar de 'ser pássaro' de sempre, só que mais encantador ainda - na medida dos impossíveis. Li em pé, escorada na estante da livraria.
7- Antologia de poemas para a juventude - Florbela Espanca
Muitíssimo bom. Poemas lindos, dignos de um nome lindo como a da sua poetisa. Encantam os olhos e cativam a alma.
6- Escolha o título - Daniel Minchoni
Poemas engraçados, trocadilhos e tudo o que poderia esperar do Minchoni. Um grande amigo - não vou negar - e um GRANDE poeta. Em maiúsculo, embora adore coisas pequenininhas.
5- O livro sagrado do menor slam do mundo - Ed. DoBurro, org. Daniel Minchoni.
Um livro só com poemas curtos - e grandes em sua pequenez - e MUITO bons. Cabe no bolso, na palma da mão e no peito. É do tipo de livro que eu me flagro batendo palmas, sozinha, no meu quarto, enquanto termino de ler um verso.
4- Devolva meu lado de dentro - Sinhá
Sem e cem palavras. Sinhá é uma linda - conheço de perto, mesmo morando longe. O livro é encantador, te penetra pelas entranhas e os versos saem pela sua boca. Você ganha um novo lado de dentro.
3- Escritos em verbal de aves - Manoel de Barros
Não sei se falo primeiro da belíssima edição da Leya ou dos versos em si. Acho que tudo isso junto. Se não fosse daquele jeito, não me faria ter vontade de voar de página à página, verso à verso. E ao avesso.
2- Poesia alguma - Ruy Rocha
Ruy é uma rocha, e sua poesia é cortante, ardente, provocadora, marcante e ácida. É doce, corrói a alma, corta os lábios, nos faz perder e ganhar fôlego ao mesmo tempo. Atenção especial para o poema 'Rio', um dos meus preferidos.
1- Atestado de órbita - Carito Cavalcanti
Eu choro e rio com esse livro. Rio muito mais que choro, vale salientar. É o melhor livro de poesia que já li, por ser descontraído e completo. Não me cabe descrevê-lo - só quem o ler saberá o que se sente.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

À um amigo de estante

Para Guto


Um agudo agito 
fez o meu peito revirar-se
em dor
quando a calçada cruzou
e me deixou.

Um agouro maldito
me habitou.

Lágrimas não cessaram
o pranto ainda não parara
mas a dor não era a única praga.

A saudade e o poema
aqueles dois ácidos
que se vendem em frascos
e cabem em lágrimas.

Na parede suja
um poema me prende e segura
à esse mundo triste.

Quando volto à vida
um pouco mais colorida
eu me vejo
ao seu lado.

Do alto das nossas árvores
não havia nada que nos incomodasse.

Um fone de ouvido,
um abraço quente
e uma flauta.

E nós dois felizes.

Benditas rimas
trouxeram-me amor bilíngue
e choro de calçada.

Eu e você
somos tão distantes
quando um livro perdido numa estante.

Mas,
por sorte,
você ainda me acha em si.

E sempre achará.

Quando a alma queimar
o peito ferver
e o prato não cessar,
me veja em você.

A coelha gorducha e O Espelho Mágico



Há muitos e muitos anos atrás, quando a falta de edifícios gigantescos ainda permitia que víssemos o céu; em épocas em que o inverno durava séculos e o verão passava mais depressa que um trem-bala; em terras remotas e muito floridas, viviam aliens e coelhos, em uma infinita harmonia.
Vocês devem estar pensando: ‘’Ora, mas como é que ALIENS e COELHOS viviam em paz?’’, estou certa?! Pois que fiquem por isso mesmo. Essa história é minha, e minha imaginação é lei.
Mas, voltando às descrições...
Os coelhos e os aliens viviam muito bem, já que a natureza dava tudo o que eles precisavam pra esbanjar e sambar na cara da pobreza dos mundos alheios.
Era um planetazinho muito interessante, apesar de pequeno e extremamente desconhecido.
Os aliens representavam 51% da população, e eram consideravelmente maiores que os coelhos, ficando, assim, com as melhores árvores e os maiores ‘’pratos’’ de comida.
Eles, os aliens, eram extremamente preconceituosos e desagradáveis, mas mantinham-se afastados fisicamente dos coelhos, por medo de levaram as suas famosas mordidas.
Os coelhos eram extremamente de bem com a vida e possuíam um lado – oculto – meio hippie de ver o mundo. Eles eram extremamente chocólatras - sua genética tinha adquirido isso através das infinitas Páscoas confeccionando milhões e milhões de ovos de chocolate -, e, por isso, eram bastante gorduchos e extremamente bochechudos. Suas barrigas, peludas e macias, estavam sempre estufadas de tanto comer chocolate.
Os aliens estavam sempre tentando arranjar formas de encrencar com os coelhos, embora tivessem, na verdade, muita inveja dos coelhos.
Um belo – nem tão belo assim – dia, os aliens tiveram uma grande ideia.
Cobertos com folhas e escondidos em arbustos, aproximaram-se da metade do planeta onde viviam os coelhos e ficaram gritando-lhes vários xingamentos, do tipo: barrigudo, bucho de cachaça, pançudo, bolo fofo, bujão, bolota, saco de banha, artéria entupida, leão marinho, chupeta de baleia, elefantino, bila bilu, e outros nomes geniais, que mudariam o curso do Universo e acabariam com a fome do mundo.
Os coelhos, irritados, partiram pra cima dos aliens, com suas mordidas infernais.
Resumindo tudo, todos morreram.
Aliens, coelhos.  
Todos mortos.
Aliás... QUASE todos.
Martina, uma coelhinha muito esperta e divertida, escapou daquela confusão toda, fugindo com um amigo seu, que vivia naquele Planeta clandestinamente - um caranguejo, chamado Zé.
E os dois partiram para a Grécia antiga, e viajaram de tapete mágico até a Grécia Antiga, ao encontro d’O Espelho.
Quando chegaram à Grécia, tudo o que viram foram enormes construções de pedra – muito bem arquitetados, por sinal – e MUITA areia.
Mas era um lugar bonito, onde podíamos fritar um ovo na calçada.
Depois de observar um pouco a cidade, seguiram para um templo muito bonito e muitíssimo alto.
Era lá, no Templo dos Grandes, Sábios e Ilustres Homens, que se encontrava o Espelho.
Quando diante do Espelho, a pessoa/macaco/papagaio/alien/avestruz/etc, ficava completamente purificado da hipocrisia humana/animal/extraterrestre.
Martina e Zé, diante do espelho, ficaram tão purificados que daria até para olhar seu reflexo na alma deles.
E os dois morreram, logo depois, assassinados por um alien – vindo de outro planeta, claro - mal amado, chamado Charles.
Mas, para o grande consolo das crianças que leem essa história, deixo aqui registrado que tinha que ser assim, de uma forma ou de todas.
O mundo não merecia algo tão puro. 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

À memória de Anne Frank


A menina confinada
completamente atarefada
seus gritos não abafava, 
escrevia. 

Quando o pranto escorria
ou aos suásticos temia
a menina de cabelos negros
chorava tanto que nem parecia
apenas uma menina 
destemida.

Atrás de tantos livros, 
escondida e imersa em prosa,
a menina crescia, 
numa imensa euforia;
numa confusão de dar dó.

Quando mais nada ela entendia
e tudo sabia
corria para o porão
onde à Peter se fundia
em seu próprio calor, 
entregue à sua própria tentação.

Foi num dia quente ou frio
que uma legião de perdidos
os acharam.

Anne Frank
a eterna rimadora
com sua própria fumaça 
virou uma das estrelas
que tanto gostava de ver.

Ser pássaro

Era jovem, comparada ao infinito. 
Podemos até dizer que ela era feliz, na medida dos impossíveis. 
Vivia e sonhava muito. Sonhava tanto que, às vezes, confundia a realidade com sonho. 
Acordada, ela sonhava ainda mais. Sonhava com cantos, com olhos e com cantos de olho. 
Observava os pássaros o dia inteiro, incansavelmente. Era fascinada por cada bater de asas, cada pena colorida e todo e qualquer voo.
Um dia, enquanto observava um pássaro de olhos claros, ela quis voar.
E por que não?!
Olhando da janela de seu quarto, de seu paraíso à parte, ela não quis continuar a viver em um infinito particular e singular.
Quis ser passarinho, e parar de apenas pular de galho em galho, poesia em poesia.
Ela se jogou da janela do 5º andar.
No meio do voo, quando ela começava a criar reais esperanças de que conseguiria ir morar em outro ninho, ser acalentada por outras asas, despencou.
Suas asas, invisíveis e completamente imaginadas, falharam.
Nada foi fácil de entender.
O que me acalma é o fato de que, de todos os seus sonhos, esse foi o único que não teve fim.
Não pra outra pessoa.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Revirando voltas

Com tantos ''vá, gina!'' e ''rê, volta!'', eu fico confusa e volto ao fim de tudo. 
Na verdade, a palavra ''volta'' e suas contrações estão presentes nas vidas de todos nós, através do tempo, das sensações, dos sentimentos.
Quando somos crianças e gostamos de algo em alguma loja, não é incomum que nossos pais digam: ''na volta, meu filho, na volta...''. 
Quando somos adolescentes, desejamos viver en(volto)s em abraços, carinhos. 
Quando desejamos vingar algo, dizemos que tudo o que vai, volta. 
E quando estamos em um processo de re(volta), então?! ''O mundo dá voltas''...
Quando somos adultos, desejamos poder voltar no tempo.
E quando estamos mortos - ou quase isso - desejamos nunca ter deixado nada pra depois, nunca ter tido pensamentos tão ruins; apenas ter sido feliz, sem medida do impossível. Ou seja, voltar no tempo. Aproveitar tudo de novo, de forma diferente.
Agora mesmo, estou com vontade de voltar ao início deste texto e refazê-lo, da melhor forma possível.
Não o farei. 
Se em algum momento isso foi escrito dessa forma, foi porque eu quis assim. Não seria o futuro a mudar o passado; mas o contrário.
Sigamos sem volta. 
Ou, na volta, sigamos.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

não mais

Não era preciso ler mentes, nem tampouco enxergar através de paredes. 
Bastava apenas um olho-no-olho, pra saber de tudo o que se trata - ou do que não se trata. 
Acontece que, mesmo que declarássemos aos céus e gritássemos das altas montanhas que estávamos bem, não estamos.
E quem estaria, em tais condições?
Meu corpo, emagrecendo a cada dia, deixando de suportar novos alimentos a cada refeição, ainda implora por você.
Mas por quê, deuses, por quê?
Eu não quero.
Tudo o que eu quero - ou deveria querer - era ter um coração que cumprisse com seu trabalho e um pulmão que não me deixasse na mão.
E esse é exatamente o problema. 
Embora, claro, esse querer não seja o problema.
O problema é que eu amo sabendo que não posso amar, e isso me queima por dentro, feito um ácido. 
E o real problema não sou eu, o problema não é você, o problema somos nós. 
Mas, digam-me, e quem é que liga? 
Ninguém. 
Só eu, só você.
Em amor mudo. 
Cada um, com sua própria música e seus próprios problemas, se diverte como pode. 
E eu me divirto, neste exato momento, brincando com o sangue que escorre de um peito antes inteiro. 
Adeus.