domingo, 21 de julho de 2013

mendigo

o mendigo é a rua
por isso eu ando chorando pela cidade
derramando sangue, espalhando suor.

ele está em todos os cantos
é o sol que nasce antes que eu acorde
areia entre os dedos além do engarrafamento 
o cimento, o concreto, as noites frias.

debaixo do papelão 
encostado no meio fio
ou no meio da praça 
ele é os olhos do mundo todo.

o mendigo é tudo o que uma cidade é.

o mendigo guarda as ruínas de tudo 
que querem que esqueçam.

a fome, 
a sede, 
a injustiça, 
a tristeza, 
a forma do sorriso já esquecida.

o mendigo é tudo o que uma cidade é.

e tudo chove
tudo é cinza, preto, escuro
sangra, arde, coça, adoece, treme, corta
perfura
escorre
cai.

o mendigo é tudo o que a cidade é. 

por isso eu ando por aí desenhando em cada canto
e grafitando cada muro 
como se fosse um sorriso
que ele ainda não tem.

abrace uma cidade. 

o mendigo é tudo o que a cidade é.

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