segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

confissões de fim de tarde

Eu gostava dele, e disso todo mundo sabia.
Era um gostar que se limitava ao simples significado do verbo.
Gostava no infinitivo.
Gostava do mesmo jeito que gostava de sentir o vento no rosto e de beber suco de uva num fim de tarde quente. Da mesma forma que gostava de subir em árvores, mas não sabia descer delas. Do mesmo jeito que amava escrever mas nunca era lida.
Não grudaria meus lábios nos dele, não trocaria saliva, não deixaria que ele entrasse por completo em mim nem que as notas de seu violão ficassem pairando nos meus tímpanos. Mas eu gostava dele.
Gostava quando o som de sua voz ficava ecoando no ar, na sala meio iluminada, meio escura. Gostava de como falava baixo, como era paciente e de como seus cabelos pareciam mudar de cor, conforme a luz. Gostava de vê-lo tocando violão, seu braço balançando pra cima e pra baixo, enquanto seus dedos, já machucados, despedaçavam-se mais ainda, roçando as cordas de aço do violão.
Gostava, sobretudo, dele.
Mas isso era uma completo segredo. Nem eu sabia disso.
Nem eu, nem meu coração, nem a minha mente.
Por outros lados de mim, haviam pedaços de célula, quase mortos, que imploravam que eu me desse conta da verdade.
Mas eu nunca saberia.
Morreria sem saber, e, por não saber, morreria.

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