quarta-feira, 17 de abril de 2013

primeiro encontro

eu piso meus pés molhados naquelas pedras
e abaixo a cabeça
para ver aquelas solas avermelhadas
- e eles estão muito machucados

continuarão assim
porque vermelho estão
e amanhã sangrarão
mas eu não estou nem aí
tenho um caminho inteiro
para seguir

já fazem três dias
e oito horas
que eu não te vejo
e essa saudade
queima e sufoca
o meu interior;
então eu prossigo
pé após pé
passo após passo
''só mais doze passos''
- que é o meu número da sorte -
''só mais doze passos'',
e vou repetindo isso
até chegar
à algum lugar

naquela tarde sem fim
eu estava deserta
e a areia molhada
fazia coçar a minha pele
e eu estava ensanguentada
o sangue escorria pelas minhas pernas,
e voava líquido vermelho pra todos os lados
e a promessa de só mais doze passos
deslizava pelo vento

depois de parar
e ver que não acharia nenhum outro pássaro,
deitei na areia da praia.

já era tarde.
as ondas do mar batiam naquela areia branca
como se quisessem transmitir
alguma mensagem divina

e eu tentava ouvir
tentava, sim!
mas era difícil.
algo dentro de mim gritava
e o eco no meu peito
não me deixava responder.

cada vez ficava mais tarde.
os cabelos molhados,
nua da cabeça à ponta dos pés,
deitei na areia.

senti os grãos entrando em mim,
como se me sugassem,
pouco a pouco,
parte após parte,
para baixo da terra.

''só mais doze passos'',
minha mente insistia em brincar,
e eu pisquei o olho
seis vezes.

as estrelas e a lua
refletidas naquele mar todo
me fizeram voltar à realidade.

à qual realidade?!
não sei explicar.
mas voltei.

levantei
e segui caminhando
me perdendo nas contas
dos múltiplos de doze,
mas seguindo adiante.

os órgãos cobertos de areia,
tremendo de frio,
deixei-me afogar.

te encontrei naquele gosto salgado,
nas estrelas do mar.

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