segunda-feira, 15 de abril de 2013

Compartimentos

O corpo moreno e nu
acolheu a água do riacho
como a um amigo
de infância

A nitidez daquilo tudo
contrastava com o brilho do seu corpo;
e os peixes nadavam à sua volta
como se fossem, dela,
seus parentes

Os cabelos molhados,
os peitos enrijecidos de frio,
as escamas dando início a um ciclo de vida,
a menina mergulhou.

Foi como se a água entrasse em seus pulmões
e lá encontrasse
um caminho secreto,
um novo rumo
a ser percorrido.

A menina abriu a boca,
pela força da pressão,
e saíram bolhas e luz.

Uma luz amarelo-ofuscante,
que a guiou por debaixo das águas.

Viajou por diversos reinos,
escapou de cavalos e de jubartes,
seguiu caminhos jamais imaginados.

Adentrou uma gruta escura
revestida de algas e pedras ocultas,
onde, lá, pôde sentar-se à sua própria sombra.

Com a cabeça encostada nos joelhos
surpresa por, além de viva,
não estar ofegante,
a menina chorou.

De seus olhos,
da cor daquela tempestade que nunca chegou,
escorrem gotas de água do mar.

Querendo re-encontrar sua outra metade,
a menina voltou.

Seus pelos,
já apontando crescimento,
se eriçaram, como se quisessem
levá-la à algum lugar.

Depois de muito bater de perna,
muito piscar de olhos e muitos
''só mais um pouquinho''
atravessou um caminho
tão pequeno, mas tão pequeno mesmo
que coube todo o seu amor lá.

O menino bebeu todas as lágrimas
da sua saudade
como se todo o 'nós' deles
fosse do tamanho e do gosto
daquele mar.

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