sexta-feira, 6 de setembro de 2013

fios

ouço o som de um acordeão tocando longe
um piano
talvez uma canção de despedida.
uma mãe
testa com testa
e seu filho,
eles choram,
eles gritam,
ela promete
ele pede
mamãe, eu quero ir pra casa
eu quero ir pra casa
eu quero ir
pra casa.

fico ali pensando
enquanto o sangue espirra de minha veia falida:
quantas
e quais dessas crianças
vão pra casa.

poucas
porque os lençóis são brancos
e as cortinas também
e enfermeiras mal humoradas desfilam
suas sapatilhas velhas
e seus cabelos presos com grampos
nos corredores
entre as camas
no chão sujo de vômito.

enquanto meu sangue todo cabe em
12 copos
procuro uma saída
não vejo
estou presa
atada
à esta vida
à esta cama manchada de vermelho
à este mundo onde o sol tenta escapar por fechaduras buracos brechas pequenos
espaços.

tudo o que me prende aqui
são esses tubos
e esse remédio que
pinga
pinga
pinga
e arde
3 vezes por minuto.

mamãe tinha planos pra mim:
uma casa florida, filhos, poesia
e um bom marido.

papai me balançava na rede
até os treze
quando eu morria toda noite.

hoje
eu torço para que este seja o meu último adeus.

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